Sonia Maria Blauth Slavutzky (*) e Abrão Slavutzky (**)
(via rsurgente.opsblog.org)
Pela boca não só o bebê mama, mas o mundo passa
pela sua boca. A importância dessa alimentação envolve sempre os laços
amorosos. O bebe não só vai se alimentar, como gozar na sucção e brincar com o
mamilo até dormir. Essa primeira fase libidinal, onde todo o prazer está
concentrado na boca, tem nesses primeiros meses a atividade de incorporar não
só o alimento, mas também as primeiras identificações. A criança assimila um
aspecto, um atributo do outro e se transforma. A incorporação oral é o mundo
psíquico entrando pela boca.
Entretanto, às vezes, a criança é alimentada não
só com o leite materno, mas com alimento açucarado como chá, leite e
achocolatado. O paladar e o olfato (gosto e o cheiro) vão sendo “treinados”. O
gosto vai sendo formado para gerar essa distância entre o que é gostoso e o que
é saudável. Além disso, há muitos bebês que nascem com uma necessidade maior de
satisfação, choram e os adultos os acalmam com alimentos adocicados. As
crianças crescem como dependentes da satisfação mediada pelo doce. Elas
consomem não só alimentos açucarados, bem como salgadinhos e frituras.
Indispensável também recordar que é difícil ficar imune à propaganda massiva
das indústrias da nutrição, que as vezes são geradoras de patologias.
A formação do gosto adquirido na infância
permanece ao longo da vida. E pessoas adultas, que preparam os alimentos
instituem e reforçam este comportamento. Um dos espaços que contribuem para
manter esse ciclo são as cantinas escolares e as merendas das creches. Elas
estão repletas de guloseimas, apesar de haver muitas leis que regulam e
protegem a alimentação dos alunos. A maioria das leis não são cumpridas, nem
fiscalizadas, pelas próprias direções escolares, pela sociedade, nem pelos
órgão governamentais. Ao mesmo tempo, não se pode esquecer que a dependência de
uma alimentação nada saudável, é de alta complexidade de solução.
O hábito alimentar é um dos fatores de várias
doenças crônicas. Alguns exemplos: a cárie, a diabete, as doenças cardíacas,
pulmonares e hoje há uma explosão mundial da obesidade. Todo esse fenômeno
contribuiu, segundo a Organização Mundial da Saúde, com a morte de 36 milhões
de pessoas em 2008, causadas por enfermidades do louco estilo de vida moderno.
Louco por uma alimentação gordurosa, açucarada, muito salgada. Novos estudos
sustentam que acabou o mundo em que os ricos eram os gordos e os pobres magros.
Há ainda desnutrição que deve ser combatida com uma alimentação saudável, mas
hoje há também muita obesidade!
O que fazer? Não há soluções mágicas. Mudar
hábitos alimentares de adultos e crianças dependentes é mais difícil que se
imagina. Na verdade, são compulsões, que geram um grave problema de saúde
pública. Por sua vez, os lobbies da indústria do açúcar, dos alimentos, e
outros vícios, se opõe a um plano de saúde de limitações a seus produtos. O
mundo passa pela boca, mas o mundo passa também pelo poder econômico, um poder
que, por lucros otimizados, odeia ser limitado. O que podemos é aprender uma
alimentação saudável, com ajuda se necessário. Ser mais ativo nessa sociedade
consumista nos fará mais humanos. Experimente.
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(*) Professora Titular de Odontologia Social da Universidade Federal do Rio Grande do Sul
(**) Psicanalista